Sexta-feira, 16 de Outubro de 2009

Estrevista ao jornal "Independente de Cantanhede" do nosso Grão Mestre

Silvério Manata é o fundador da Confraria Nabos e Companhia. Esta foi a forma encontrada para manter a tradição da confecção da gastronomia tipicamente gandaresa. A plantação de grelos de nabo surgiu há cerca de 30 anos. Desde então, este alimento tornou-se típico da zona de Carapelhos, concelho de Mira.

Para se tornar "nabo" teve de passar por um ritual de entronização baseado numa tradição que remonta há vários anos, por altura da festa em honra de Nossa Senhora da Conceição.

Nos livros "Contos da Confraria" e "No reino dos Nabos", o grão-mestre relata vivências dos habitantes da região da Gndara. Em nada relacionados com a Confraria, a gastronomia também está presente nestas publicações pois todos os títulos dos contos são nomes de ementas.

P:Com que objectivo foi criada a Confraria Nabos e Companhia?

R:Sou confrade desde a primeira hora, pois sou o fundador da Confraria Nabos e Companhia, criada a 1 de Janeiro de 2000. A Confraria foi criada para promover o património gastronómico regional que está normalmente sempre carregado de história. A cultura de uma região passa sempre pela própria gastronomia. Normalmente as confrarias têm o nome da região ou dos produtos que defendem mas nós optamos por, em paralelo com as sardinhas na telha e com o pitéu de raia tudo genuinamente gandares, juntar os versáteis grelos de nabo que valorizam a gastronomia. Também porque somos da aldeia que é o berço da produção de grelos. Querendo nós homenagear a terra, nada melhor do que dar o nome daquilo que é mais genuíno.

P:Porquê "Nabos e Companhia"?

R:Há uns 30 anos atrás, começaram a vender grelos na feira de Cantanhede. No período em que acabava a adiafa, perto do mês de Setembro, não havia grande trabalho para fazer nos campos. As pessoas que lidavam mal com as forças que as impediam ao trabalho, começaram a experimentar os grelos de nabo. No início era só uma planta forrageira cozida para os porcos, mas depois descobriram-lhe as virtudes da rama e começaram a comercializá-la. Primeiro vinham para Cantanhede em carros de bois, chegavam a ir de comboio para Coimbra, até que passaram a ser transportados em camiões até para o estrangeiro. Portanto tem um peso económico grande para a aldeia. Entretanto pela sua excelência já alastraram à região. Neste momento não são só património de Carapelhos.

P:É a única confraria oriunda de uma aldeia…

R:Até à data pouco mais há. Somos a única confraria oriunda de uma aldeia mas isso não tem nada de mais nem de menos, só nos confere alguma autonomia. Sendo este um trabalho de carolice, numa aldeia sem apoios da Câmara e de outros organismos é muito complicado. Neste sentido temos um certo orgulho em dizer que somos a única confraria oriunda de uma aldeia. Este é um factor de motivação e por outro lado também de orgulho. Sendo muito trabalho e continuando nós extremamente activos vamos ganhando algum peso.

P:Qualquer pessoa pode fazer parte da confraria?

R:Não é nabo quem quer é nabo quem pode, costumo dizer em jeito de brincadeira. Integrar a confraria tem direitos mas também muitos deveres. Tentamos escolher confrades que sintam a terra. É difícil de descrever, mas há aqueles indivíduos que não sentem muito amor à causa, é nesse sentido e brincando que digo que não é confrade quem quer mas quem pode. Isso não quer dizer nada mas quer dizer sobretudo que para se tornar confrade é preciso ter um certo número de requisitos que não são quantificáveis nesses termos mas gravitam de certo modo à nossa volta até que nós tenhamos quase a certeza que eles se dedicam à causa. Não há provas propriamente ditas mas há ali uma espécie de um ano de estágio.

P:Como foi o seu ritual de entronização?

R:Tem de haver uma confraria madrinha que entroniza o confrade mor e é esse que entroniza os outros. É um ritual curioso e engraçado. No fundo somos uma associação cultural e nesse sentido vamos fazer a entronização indo buscar qualquer coisa à tradição. Nos Carapalhos comemora-se a 8 de Dezembro a Festa de Nossa Senhora da Conceição. Através de testemunhos orais, ficamos a saber que antigamente as pessoas que iam à festa passavam pelos campos e arrancavam o nabo e talhavam o respectivo copo. Ficava algo mais ou menos redondo pelo qual bebiam o vinho nas tascas da dita festa. O nosso ritual de entronização, em que se diz que "a partir de agora és um autêntico nabo", está relacionado com esta tradição. O novo elemento vai beber as raízes à tradição. O meu foi assim, os meus padrinhos deram-me a beber pelo nabo.

P:Há algum encontro especial que lhe tenha ficado na memória?

R:Todos os encontros ficam na memória. Fazemos dois tipos de encontros, os capítulos que são festas anuais mais formais, e os encontros que são feitos numa genuína casa gandaresa onde todas as refeições são confeccionadas pelos confrades. Este é outro dos requisitos para entrar na confraria, cada elemento tem de saber cozinhar.

P:Empenhados na certificação dos grelos de nabo…

R:Estamos a trabalhar para a certificação dos grelos de nabo. Não é um processo muito fácil porque, entre outras coisas, para que se certifique um produto ele tem de ter história. Além dos testemunhos orais, um dos confrades está a desenvolver um trabalho de investigação na biblioteca de Cantanhede sobre os grelos de Carapelhos.

P:Escreveu "Contos da Confraria" e "No reino dos Nabos". Porquê?

R:Sempre gostei de escrever. A confraria foi uma espécie de mola que impulsionou uma coisa que estava cá dentro. Certas coisas que tinha necessidade de escrever, achei que nesse momento tinham cabimento. São histórias relacionadas com todo o universo gandarês. Tendo em mente a ideia de que comer é cultura, todos os contos têm o título de uma ementa. Os livros não estão relacionados com a confraria. É uma forma de agradecimento por ter sido a tal mola impulsionadora.
publicado por cnc às 23:54
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